O Festival Músicas do Mundo (FMM) regressa à costa alentejana a partir de sexta-feira, dia 18 de julho, estendendo-se até 26 de julho, para a sua 25.ª edição. Em Porto Covo e, posteriormente, em Sines, o festival promete ser, nas palavras do seu diretor artístico e de produção, Carlos Seixas, um espaço para “quem sabe escutar o outro”, em contraste com aqueles que “só escutam o eco da sua própria voz”. Em entrevista à agência Lusa, Seixas sublinhou que o FMM “distingue-se como um espaço de encontros, da diversidade, da descoberta e da celebração das culturas”.
Um quarto de século depois da sua criação, Carlos Seixas expressa o desejo de que o FMM mantenha “a sua essência, os seus valores”, mesmo num “contexto de pressões, quer políticas, quer económicas e sociais”. Para o diretor, a prioridade do festival é “priorizar o bem-estar da comunidade, não estabelecer fronteiras estanques e continuar a reconhecer a ligação entre arte, política, ativismo, entretenimento e, fundamentalmente, também ajudar a construir pontes culturais, que são bem necessárias neste momento”.
Apesar das dificuldades em trazer alguns músicos de geografias diversas e em conflito, como é o caso de artistas da Palestina (Tamer Nagar, que atua no sábado às 22h45, e a banda 47Soul, que junta também músicos da Jordânia e toca no último dia às 00h45), Carlos Seixas destaca que o festival não se pauta por cabeças de cartaz. No entanto, algumas presenças notáveis incluem Bonga (Angola), Youssou N’Dour (Senegal), Julieta Venegas (México) e um concerto de tributo ao falecido jamaicano Max Romeo. Nomes consagrados da música mundial como Rokia Traoré (Mali), Orchestra Baobab (Senegal) e The Mystery of the Bulgarian Voices (Bulgária) também marcam presença.
Durante os nove dias do festival – três em Porto Covo e os restantes em Sines –, estão previstos 49 concertos com artistas de 34 países, assinalando as estreias de Bolívia, Gabão, Guatemala, Jordânia, Indonésia (Java) e Somalilândia. Como é habitual, há uma forte representação de artistas de língua oficial portuguesa, como Nação Zumbi, Bia Ferreira, Luca Argel e Gabriele Leite (Brasil); Roberto Chitsonzo (Moçambique); Fábio Ramos, Fidjus Codé Di Dona e Fidju Kitxora (Cabo Verde); Umafricana (Guiné-Bissau); e Bonga (Angola). Carlos Seixas promete que o FMM recordará “a festa que foi e que é” as independências das ex-colónias. Portugal estará representado por Ana Lua Caiano, Lena d’Água, Capicua, Miss Universo e Bateu Matou. O músico iraniano Kamakan, que estava no programa, não conseguiu viajar devido à “situação geopolítica no Irão”.
Para além dos concertos, o FMM oferece uma vasta gama de “atividades paralelas”, incluindo exposições, debates, ateliês, uma feira do livro, do disco e do cartaz, apresentações de obras literárias, contos e oficinas para crianças. Carlos Seixas salienta a importância dos debates, que abordarão temas como imigração, libertação e independência, e a exposição “Balumuka! – Narrativa poética da liberação… ou ainda, Rebelião Poética Kaluanda”, com curadoria de Kiluanji Kia Henda e André Cunha, inaugurada a 12 de julho, que apresenta trabalhos de artistas contemporâneos de Angola como Luaty Beirão e Zezé Gamboa.
O Festival Músicas do Mundo tem a particularidade de ser exclusivamente organizado pela Câmara Municipal de Sines, apesar de contar com um patrocinador comercial. Questionado sobre os riscos desta particularidade em contexto de eventual mudança autárquica, Carlos Seixas recordou que “o FMM esteve sempre em risco, no contexto das pressões que existem”, e que “tem esse caráter único de ser um festival já com tantos anos e que sempre foi mantido pelo poder local e pela câmara”. O diretor sublinha que “a câmara está completamente engajada neste projeto”. Carlos Seixas conclui que “o futuro dirá” o que acontecerá ao FMM, mas que, “neste momento o próprio mundo está em risco, quanto mais um festival”, preferindo focar-se no “vento de felicidade e, ao mesmo tempo também, de liberdade que um festival desta natureza exerce sobre um público numeroso e sobre a própria comunidade aqui que recebe sempre de uma maneira extraordinária as pessoas que vêm de fora”. Com o lema “Música com espírito de aventura”, o FMM já venceu o prémio EFFE Award 2017, atribuído pela European Festivals Association, e entre 2016 e 2024 recebeu 14 prémios Iberian Festival Awards (oito ibéricos e seis nacionais).