A SkyExpert, especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo, organizou um debate destinado a (re)pensar o novo aeroporto de Lisboa à luz da atualidade económica, ambiental, tecnológica e climática no passado dia 19 de Julho no Museu do Oriente.
O debate iniciou com uma reflexão sobre a “urgência” aeroportuária ditada no início dos anos 90 quando o então Ministro das Obras Públicas, Ferreira do Amaral, declarou que a Portela iria atingir a sua capacidade máxima aos 16 milhões de passageiros/ano. Quase 30 anos volvidos não só isso não se verificou, como a Portela acolheu 31 milhões de passageiros em 2019.
Domingos Leitão da Sociedade Portuguesa de Estudos de Aves (SPEA) e Duarte Costa, geógrafo e analista sobre alterações climáticas, consideram que “o projeto de um segundo aeroporto não está a ter em conta a urgência ambiental expressa numa agenda europeia legal e vinculativa assinada por Portugal e que passará pela redução drástica de emissões de carbono até 2050. Ninguém fala do elefante branco na sala e todos defendem a construção de um aeroporto projetado há 10 ou 20 anos que, chegado o dia, pode não servir para nada devido às restrições e confinamentos ambientais necessários: vimos na pandemia o que uma catástrofe pode causar no espaço e no tempo”, relembraram.
Para este grupo, os decisores políticos deveriam aproveitar o atraso da construção do segundo aeroporto de Lisboa para rever todo o projeto e sua urgência na ótica do transporte aéreo do futuro, da sustentabilidade, da descentralização turística do país, do aproveitamento da rede aeroportuária atual do Continente – Portela, Porto, Faro, Beja e aeródromos.
Presentes na iniciativa estiveram David Simão e Filipe Pombeiro, Presidente da Direção e da Assembleia Geral do Nerbe que intervieram reforçando a importância da estrutura bejense para a região, quer para empresários quer para a economia local.
Margarida Duarte Patriarca, técnica do Programa Operacional Regional do Alentejo na CCDR e eleita Municipal em Beja, interveio em defesa da solução Beja, com uma frase que marcou a sessão “Beja está 33 milhões de euros à frente da solução“, não deixando de abordar as realidades e limitações atuais do Terminal de Beja, mas evidenciando que as vantagens são mais do que as desvantagens, principalmente no que respeita à Coesão Territorial do interior. Defende que tem de haver vontade política a favor da região, uma efetiva coesão, e que devem ser procuradas soluções viáveis e realistas e assim criar vontade para uma solução que valorize o Alentejo, ou seja: possibilidade de uso do Terminal complementado com a melhoria das infraestruturas que serviriam o aeroporto e as pessoas da região, nomeadamente a ferrovia e auto-estrada ou via rápida.
Na sessão foi ainda divulgado que atualmente 35% dos passageiros que chegam ao aeroporto de Lisboa, nunca chegam a sair dessa infraestrutura porque estão à espera de ligações para os seus destinos e é também para esses passageiros que Beja é alternativa, como complementar a Portela, desanuviando a pressão que existe actualmente. Para esses passageiros, pouco importa se esperam em Lisboa ou em Beja. Nunca chegarão ao Marquês de Pombal.
Nas conclusões Pedro Castro da Sky Expert, defendeu que, “com uma melhor organização e gestão do espaço existente, a Portela poderá servir os interesses económicos imediatos e evitar as enormes perdas de dinheiro avançadas pelo estudo da Confederação do Turismo de Portugal. Com o suposto novo aeroporto, essas perdas apenas se resolvem em 2030…de que forma isso pode ser considerada uma solução?”
Uma passagem, por despacho administrativo, de toda a aviação executiva da Portela para Tires, uma solução para Figo Maduro, o fim dos voos domésticos Lisboa-Porto e Lisboa-Faro, o fim de voos para destinos em que mais de 80% dos passageiros se encontram em trânsito de um voo para outro sem saírem do aeroporto foram apenas algumas das medidas avançadas para aliviar e requalificar o tipo de tráfego existente na Portela.
Concluindo o debate, este grupo considera alcançado o objetivo de validar uma narrativa mais atual, coesa e integrada sobre o tema do aeroporto e lamenta que estes pontos estejam, até agora, totalmente fora da agenda política.