Portugal viu a sua herança agrícola e ambiental ser duplamente reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Numa cerimónia realizada a 31 de outubro de 2025, na sede da FAO em Roma, o Montado da Serra de Serpa foi formalmente homenageado como um dos mais recentes Sistemas de Património Agrícola de Importância Global (GIAHS ou SIPAM). Este reconhecimento insere-se nas comemorações do 80.º aniversário da organização, onde foram celebrados 28 novos sítios de 14 países, num marco que eleva a rede global SIPAM para 102 sistemas em todo o mundo.
Com este galardão, Portugal passa a estar representado na rede SIPAM com dois sistemas: o Montado da Serra de Serpa, no Alentejo, e a Agricultura de Barroso, em Trás-os-Montes.
O Montado da Serra de Serpa destaca-se a nível europeu como um dos sistemas agrossilvopastoris mais antigos, caraterizado por uma gestão notavelmente ecológica de bosques de sobreiros e azinheiras. Este sistema foi moldado pelas comunidades locais através do pastoreio extensivo de baixa intensidade, agricultura de sequeiro e gestão florestal, criando uma paisagem multifuncional que não só conserva uma rica biodiversidade, como também sustenta as economias rurais. A FAO reconhece o montado como um modelo mediterrânico de resiliência climática e de recuperação de terras.
A candidatura do Montado da Serra de Serpa a SIPAM foi resultado de um processo alargado de auscultação pública e de organizações locais. Para receberem o certificado de reconhecimento em Roma, a comitiva portuguesa integrou representantes da Rota do Guadiana-ADI (entidade promotora), da Câmara Municipal de Serpa, do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV).
O evento em Roma, que incluiu palestras, uma feira com degustação de produtos dos vários SIPAM e atuações culturais, foi aberto pelo Diretor-Geral da FAO, QU Dongyu. O Diretor-Geral felicitou os agricultores, pescadores, pastores e silvicultores que, ao manterem vivo o conhecimento tradicional, oferecem lições práticas para proteger os ecossistemas, adaptar-se à crise climática, garantir a segurança alimentar e salvaguardar os meios de subsistência. “Cada sítio do GIAHS reflete como as tradições agrícolas podem ajudar a alcançar os Quatro Objetivos: Melhor Produção, Melhor Nutrição, Melhor Meio Ambiente e Melhor Vida – sem deixar ninguém para trás”, concluiu QU Dongyu.
